Xô preconceito
Estereotipar ou discriminar uma pessoa por causa da idade pode, e deve, ser combatido com educação e contato entre as diferentes gerações
Envelhecer faz parte da vida, é um processo natural e não um defeito ou um problema. Apesar disso, muita gente encara o passar dos anos com medo e, o pior, com preconceito. Essa situação tem até nome: ageísmo, termo que vem do inglês (ageism) e foi criado em 1969 pelo psiquiatra e geriatra americano Robert Butler.
“O médico definiu como o ato de estereotipar ou discriminar uma pessoa ou grupos de pessoas baseado na sua idade cronológica, só que os mais velhos são sempre os mais atingidos”, diz o coordenador do programa USP 60+, da Universidade de São Paulo (USP), Egidio Dórea.
Para ele, esse é o mais prejudicial dos preconceitos, porque se manifesta contra nós mesmos, contra o nosso futuro, reforçando a crença de que o nosso ser jovem é muito melhor do que o nosso ser velho. E também é o mais universal, pois afetará a todos que envelhecem, independentemente de gênero, raça, orientação sexual e classe social.
“O envelhecer, para a maioria das pessoas, está associado com incapacidade, improdutividade e morte: estereótipos incorporados desde muito cedo na nossa vida. Só que isso deveria ser motivo de orgulho, afinal, a idade representa tudo aquilo que uma pessoa viveu, a sua trajetória. É importante ter orgulho”, acrescenta o especialista.
Formas de manifestação
O ageímo se manifesta de várias formas, nos âmbitos pessoal, familiar, social e institucional. Acontece, por exemplo, quando a própria pessoa se menospreza por causa da idade; quando os outros têm pensamentos e atitudes preconceituosos, discriminatórios e até infantilizados em relação aos mais velhos; quando o profissional mais maduro é obrigado a se aposentar, não consegue galgar postos mais elevados ou não é contratado, independentemente da sua produtividade, e quando o paciente idoso é visto como menos prioritário.
Para combater essa situação, pontua Dórea, é preciso promover o contato entre as diferentes gerações, para que os mais jovens passem a encarar o processo de envelhecimento, e a velhice propriamente dita, de forma positiva, com respeito e cuidado.
Investir em ações de conscientização também é fundamental, segundo o especialista. Nesse sentido, inclusive, a USP promoveu a campanha Orgulho Prateado, com palestras, rodas de conversa e atividades esportivas. “No momento em que se constrói uma sociedade benéfica para o idoso, ela se torna benéfica para todos. Diante disso, o envelhecimento tem de ser entendido e celebrado, e não temido ou motivo de preconceito”, complementa.
20 Termos do Glossário da Economia Prateada
Age friendly: produtos, serviços ou espaços “age friendly” são aqueles que foram desenvolvidos levando em consideração as necessidades dos maduros.
Aging in market: promove nova visão das marcas quanto às motivações de consumo e interesses dos 60+ para uma melhor experiência de compra e de relacionamento com esse público.
Aging in place: capacidade de continuar vivendo em sua própria casa e comunidade, de forma independente, segura e confortável.
Anti aging: usado para definir produtos que previnem o envelhecimento (como no caso dos cosméticos), esse termo vem sendo repensado, pois envelhecer não é uma doença.
Casas adaptadas: residências transformadas em um local seguro, confortável e que auxilia na autonomia e independência da pessoa madura.
Centro de convivência: espaços que oferecem atividades variadas assistidas contribuindo para o processo de envelhecimento saudável e para o desenvolvimento da autonomia e da socialização.
Design universal: enfoque no design de produtos, serviços e ambientes a fim de que sejam usáveis pelo maior número de pessoas possível, independentemente de idade, habilidade ou situação.
Economia prateada: é a soma das atividades econômicas associadas às necessidades das pessoas com mais de 50 anos e os produtos e serviços que elas consomem ou virão a consumir.
Envelhecimento ativo: processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas.
Gerontolescente: termo criado pelo médico Alexandre Kalache, designa um grupo de maduros dos 55 anos até os 75 anos que não é mais jovem, mas ainda não está fragilizado e se recusa a aceitar o estereótipo do vovô velhinho.
Idadismo ou etarismo: é a tradução do termo inglês “ageism”, que significa o preconceito e a discriminação etária contra pessoas mais velhas.
Intergeracional: interações sociais entre indivíduos de idades distintas. Dentro do universo prateado, as relações intergeracionais são estimuladas também no desenvolvimento de produtos e serviços para os maduros.
Quarta idade: é considerada a velhice mais avançada, aquela que exprime perdas maiores e mais significativas.
Revolução prateada: fenômeno global de envelhecimento da população e ressignificação da velhice.
Sem idade ou ageless: termo usado para definir pessoas que não se rotulam pela idade e sim pelo seu comportamento, vontades e desejos.
Silver dollars: nomenclatura relacionada ao consumo e movimentação financeira dos maduros.
Silver valley: pólo de negócios, pesquisa e desenvolvimento de soluções e produtos em Paris, na França, focado no envelhecimento com qualidade de vida.
Superidosos: indivíduos com 80 anos ou mais com uma capacidade de memória muito acima da média para a idade que têm.
Unicórnios prateados: startups com soluções para o envelhecimento que estão crescendo rapidamente.
UX60+: desenvolvimento de melhores produtos, serviços e experiências para o público 60+.