Trabalho na maioridade
Aumento da expectativa de vida tem feito a geração 60+ buscar novas oportunidades profissionais
A expectativa de vida está aumentando em todo mundo. Na década de 1970, era de 58 anos; em 2010 subiu para 69 anos e, em 2050, deverá ser de 76 anos. No Brasil, projeta-se que, em alguns anos, haja mais idosos do que crianças. Para se ter uma ideia, entre 2012 e 2018, o número de pessoas com 65 anos de idade ou mais cresceu 26%. No ano passado, a turma da maioridade já representava 10,5% do total da população do País, o equivalente a 21,8 milhões de indivíduos. Em 2050, estima-se que 30% terão 60 anos ou mais. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No mercado de trabalho, a elevação da longevidade tem feito com que muitos profissionais maduros se mantenham atuantes por mais tempo. Em 2040, segundo pesquisa realizada pela consultoria PwC e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), aproximadamente 57% da força ativa será composta por pessoas com mais de 45 anos.
Na atualidade, os longevos ainda são o grupo que têm menos participação nas estatísticas de emprego. Mas o percentual vem subindo. Em 2012, de acordo com o IBGE, era de 5,9% e, em 2018, chegou a 7,2%, o que corresponde a 7,5 milhões de funcionários mais velhos empregados.
Novas oportunidades
Em vista de toda essa mudança, muitas empresas têm olhado com mais cuidado para o tema. Caso da Unilever Brasil, que lançou em maio de 2019 o programa “Senhor Estagiário”, para contratar estudantes do Ensino Superior com mais de 55 anos e interesse na área de vendas. Foram recebidas mais de mil inscrições e cinco pessoas foram contratadas.
“Acreditamos na diversidade, inclusive a etária, como um meio para enriquecer o ambiente corporativo. Quando alguém com mais de 55 anos decide fazer uma nova graduação, entendemos que completar as horas de estágio é mais um dos desafios, então, por que não dar essa oportunidade?”, questiona o diretor de Recursos Humanos da companhia Fernando Rodrigueiro.
O executivo destaca que a iniciativa segue as mesmas premissas de um programa de estágio regular, ou seja, desenvolver e preparar profissionais para o mercado de trabalho. “Em nenhuma etapa do processo seletivo foi requerida experiência profissional anterior. O principal foco foi a inserção. E não se trata apenas de uma ação de empregabilidade, mas também uma forma de contribuir para o resgate da autoestima dessa geração”, acrescenta.
Os estagiários contratados pela companhia têm perfis bastante diversificados: são estudantes que estão passando pela primeira graduação, buscaram o curso para aprimorar algum conhecimento ou, até mesmo, se atualizar para retornar ao mercado. E entre eles está Gloria Oliveira, de 62 anos.
“Minha filha soube do programa pelas redes sociais. No começo achei que não era para mim. Voltei a estudar porque gostaria de ter uma vida financeira mais estável e, para ser sincera, não pensava em um estágio. Quando a ‘ficha caiu’, resolvi levar a sério e encarei como uma nova oportunidade”, diz.
A profissional, que está no sexto semestre do curso de Administração, conta que já trabalhou como empregada doméstica, vendedora, técnica de enfermagem e consultora imobiliária. “Voltar para a sala de aula após 30 anos não foi fácil, mas tem sido recompensador”, afirma. “O estágio é um desafio, mas também a possibilidade de um novo aprendizado diferente todos os dias. O meu maior objetivo agora é ser efetivada”, complementa.
Na Unilever Brasil, além dos estagiários maduros, 6% dos funcionários têm mais de 50 anos. Em cargos de liderança são 8%. Dentre os colaboradores com tempo de casa entre 20 e 30 anos, 46% estão nessa faixa etária. “As pessoas mais seniores contribuem com suas experiências de vida, capacidade analítica e repertórios diversificados. Essa combinação gera um ambiente organizacional mais saudável, com mais troca e aprendizado contínuo”, analisa Rodrigueiro.
Da mesma opinião compartilha o criador da plataforma de trabalho MaturiJobs Mórris Litvak: “os maturis trazem um olhar diferente ao ambiente de trabalho, assim, são complementares aos jovens. Eles colaboram para a maior diversidade das equipes, têm experiência de vida, alto comprometimento, jogo de cintura, paciência e atenção aos detalhes. E, por já terem passado por diversas crises, lidam melhor com as adversidades”, afirma.
A atuação da MaturiJobs, lançada em 2015, é justamente contribuir para esse cenário. Com mais de 100 mil pessoas com idade acima de 50 anos cadastradas, já proporcionou a recolocação de cerca de 1,2 mil delas. A lista de empresas parceiras tem mais de 500 nomes, como O Boticário, A Taba, Vitus, Worth a Million, Instituto Muda, Grupo DPSP, PwC, PepsiCo, Gol, Reserva e Reclame Aqui.
“Com o envelhecimento populacional cada vez mais acelerado, principalmente no Brasil, a Reforma da Previdência e a flexibilização da legislação trabalhista, as empresas têm de repensar suas práticas de recrutamento e seleção voltadas somente aos jovens, além de ter um público consumidor cada vez mais maduro, que precisará ser atendido por seus pares”, completa Litvak.
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Aumento da expectativa de vida tem feito a geração 60+ buscar novas oportunidades profissionais
- webmaster
- fevereiro 11, 2020
- 5:55 pm
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